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Segurança, Defesa e Geopolítica

Explorando Camadas Explicativas de Defesa em Duna

João Catraio Aguiar*, 06 de abril de 2024

Imagem: Pixabay/Pexels

Dando sequência ao artigo anterior, devemos nos perguntar: quais são as dimensões em que personagens como Paul Atreides atuam e em que a narrativa ocorre? Acredito existirem três: galpolítica, geopolítica, regipolítica e quanpolítica. Pedindo emprestado um pouco de imaginação humanística, à moda de Wright Mills, vamos a elas.

Em Duna, existe uma galáxia. Quem cruza ela é a Guilda com seus navegadores a usar a Especiaria para tanto, e o fato de Arrakis praticamente concentrar o recurso lança-a em disputas. Administrado pelo Padixá Imperador, o Império se sustenta por apoio das Casas Maiores, que são a coalizão vencedora a amparar o poder. Elas se reúnem em defesa de seus interesses no Landsraad, que contrabalança o poder quase imparável imperial. Essa é a essência da “Galpolítica”: planetas e suas relações em uma galáxia. Inexiste no início discussões sobre exoplanetas ou exopolítica, e a princípio todas as raças das Casas são humanas ou no mínimo humanoides.

A segunda dimensão é conhecida. Caladan é planeta conhecido por seu poder naval e aéreo. O último é utilizado pelos Harkkonen para ataque massivo, à moda de Douhet e Seversky, contra o Sietch Tabr. Já a força do deserto mistura duas dimensões, uma delas sendo o que se conhece como poder terrestre. A segunda dimensão da força do deserto dos Fremen é a capacidade de operar no subterrâneo. Aqui a divisão espacial remete mais a que existe na mitologia grega com Hades, Poseidon/Atenas e Zeus, respectivamente o mundo subterrâneo, o mundo dos oceanos e das cidades, e os céus.
As principais características do Planeta Arrakis são não possuir água nenhuma quase, ser praticamente desértico a não ser por eventuais rochas, com uma tempestade permanente no meio do planeta. Ela segmenta um norte onde está a capital dominada pelo Império, e um sul muito mais populoso em que os Fremen dominam por completo.

A terceira dimensão é “regipolítica”, portmanteau que unifica região com política, em uma dimensão menor que a geopolítica. Aqui temos por exemplo a situação do Sietch Tabr, em que nos é apresentado um universo à parte. Ali está a piscina de água pessoal dos que faleceram e em algum momento fizeram parte da comunidade Fremen. Ali estão os espaços de rituais. Estão espaços onde eles divertem-se, mais entendida por leitores dos livros que pelos que veem as adaptações de filmes ou séries. Ali estão os locais de reunião para decisões de grande vulto. Entre outros. Poderia ser considerada como a parte micro da Geopolítica, a dimensão mais local, mais regional.

A quarta dimensão eu chamei de “Quanpolítica”, e sua principal característica é a capacidade de em uma pessoa, em um momento, em um átimo de tempo-espaço, muito ser redefinido no enredo. Aqui está a traição do Dr. Yueh. Aqui temos as decisões do Duque Leto quando cria uma armadilha para o Barão. Aqui temos as visões de Paul. Aqui temos a decisão de acolher e treinar Paul por parte de Stilgar. Aqui temos as pouco virtuosas decisões do Padixá Imperador Shaddam IV. Aqui está a firmeza de Lady Jessica no seu propósito seja com a Água da Vida, seja no teste aplicado em Paul. Aqui estão todos os dilemas individuais profundos, resolvidos de uma forma exímia pelo escritor Frank Herbert. Trata-se de um neologismo que mescla o estudo do que é quântico, das pequenas proporções, que unificam ondas e partículas, junto com política.

Acredito que esses conceitos sirvam para que a imaginação se expanda, e, com isso, se refine as análises feitas de maneira acadêmica e/ou para que comentários livres, obras culturais, possam apontar algo novo. Toda sociedade cresce quando indivíduos deixam para trás o simplismo reducionista e abraçam a complexidade ao lidar com a realidade, e nisso este artigo apostou.

Doutor em Ciência Política, Mestre em Relações Internacionais, Bacharel/Licenciado em Ciências Sociais. Psicanalista, Hipnoterapeuta e Especialista em Psicanálise e Psicologia.