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Segurança, Defesa e Geopolítica

A Armadilha de Tucídides

China busca caminhos para evitar a Armadilha de Tucídides em conflito com os Estados Unidos.

Edoardo Pacelli (*) Publicado originalmente no Monitor Mercantil em 30 de março de 2024.

Foto: Xinhua/Shen Hong.

A China convidou o professor Graham Allison a ir até Pequim, para evitar um confronto com os EUA. O professor de Harvard foi recebido, no dia 26 de março, pela liderança chinesa. A esperança é que as empresas e os acadêmicos possam ajudar a melhorar as relações com os EUA e evitar a Armadilha de Tucídides.

Tucídides (460 a.C. – 399 a.C.) foi um historiador e soldado ateniense, um dos principais expoentes da literatura grega, graças à sua obra-prima historiográfica: A Guerra do Peloponeso. A Guerra do Peloponeso durou aproximadamente 27 anos, de 431 a.C. até 404 a.C, e envolveu as duas principais potências gregas, Atenas e Esparta.

Mas por que estamos falando de Tucídides? Em outubro de 2023, o líder chinês Xi Jinping afirmou que a “Armadilha de Tucídides” não é inevitável, ao reunir-se com uma delegação bipartidária do Senado dos EUA, liderada pelo líder do Partido Democrata norte-americano, Chuck Schumer, que incluía Graham Allison.

“Armadilha de Tucídides” é uma expressão que define a possível tendência que leva algumas tensões políticas, pela supremacia entre Estados, a conduzir a verdadeiras guerras travadas. Para explicá-la e, talvez, também evitá-la, Wang Yi, ministro dos Negócios Estrangeiros chinês, se reuniu com Graham Allison, professor da Harvard Kennedy School, que foi o primeiro a aplicar a imagem da armadilha às relações entre as duas superpotências e ao risco de que as tensões pudessem conduzir, inevitavelmente, a uma guerra aberta.

Segundo o relato de Xinhua, o portal de notícias da agência de imprensa oficial da China, o ministro Wang afirmou que o evento mais importante nas relações internacionais nos últimos 50 anos é a retomada e o desenvolvimento das relações China-EUA. Nos próximos 50 anos, o que a comunidade internacional mais aspira é que a China e os Estados Unidos encontrem uma forma adequada de coexistência.

Os princípios de respeito mútuo, coexistência pacífica e cooperação mútua fornecem a orientação fundamental para visualizar e administrar as relações China-EUA, assegurou Wang.

A diplomacia divulgou um relatório da reunião. Em particular, Allison fez questão de salientar que manteve “uma conversa privada, sincera e não oficial, de quase uma hora de duração, sobre as formas como a China está seriamente tentando escapar à Armadilha de Tucídides”.

“Na minha busca por maneiras de sair da armadilha de Tucídides”, disse Allison, “estou encontrando muitos indícios e pistas, tanto na história quanto na filosofia chinesa, que, historicamente, teve a capacidade de abraçar contradições e complexidade”, afirmou Allison. “Essas nuances poderiam oferecer orientação conceitual para um relacionamento destinado a ser, de um lado, a rivalidade mais acirrada de todos os tempos, mas, igualmente, uma parceria sólida em um mundo onde a sobrevivência de cada rival requer uma cooperação significativa com o outro”, acrescentou.

Do lado chinês, no final do encontro com Wang Xi, foi emitida uma nota onde se lê: “O professor Allison afirmou, por sua vez, que os três princípios para o desenvolvimento das relações sino-americanas, apresentados pelo presidente Xi Jinping, são muito importantes e instrutivos. Ele espera obter uma compreensão mais profunda da história e da cultura chinesas e compreender, melhor, a política externa da China.”

Da mesma declaração se aprende que Wang esperava que a China e os Estados Unidos enfrentassem “desafios globais para construir relações mais estáveis, saudáveis e sustentáveis”, sem esquecer que ambos têm histórias e culturas completamente diferentes, que permitem julgar-se, mutuamente, de acordo com seus próprios parâmetros.

Além disso, sublinhou o papel do mundo acadêmico, que pode “fortalecer a investigação sobre a forma correta de conviver entre a China e os Estados Unidos, sobre a comunidade humana, com um futuro partilhado, propondo ideias construtivas que vão além das teorias tradicionais de internacionalização”.

“Enquanto os dois lados se considerarem parceiros, se respeitarem, coexistirem pacificamente e cooperarem para alcançar resultados vantajosos para todos, as relações China-EUA irão melhorar”, afirmou o presidente Xi. “É importante que as pessoas de diferentes setores das nossas sociedades interajam, comuniquem e cooperem mais”, acrescentou, conforme relatou Hua Chunying, porta-voz do Ministério dos Negócios Estrangeiros chinês. “Xi sublinhou que o estado das relações entre a China e os Estados Unidos, seja de confronto ou de cooperação, é crucial para o bem-estar dos dois povos e para o futuro da humanidade. Nosso respectivo sucesso é uma oportunidade para o outro.”

As palavras de Wang e os seus encontros com Allison e com Evan Greenberg e Stephen Orlins, do Comitê Nacional de Relações EUA-China, seguem as promessas do governo chinês de tratamento igualitário para empresas e investidores estrangeiros, assustados tanto com as tensões geopolíticas, como com algumas restrições decididas por Pequim (como a lei sobre o segredo de Estado, que amplia enormemente os poderes da autoridade).

(*) Edoardo Pacelli é jornalista, ex-diretor de pesquisa do CNR (Itália), editor da revista Italiamiga e vice-presidente do Ideus.