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Segurança, Defesa e Geopolítica

Não é Mogadíscio. É o Rio de Janeiro!

Por Redação DefconBR, 06 de julho de 2023.

A cena da manhã desta quinta-feira remete ao filme Falcão Negro em Perigo (Black Hawk Down), com colunas de fumaça negra subindo de fogueiras a partir de um dos maiores complexos de favelas do Rio de Janeiro, no bairro da Penha, zona norte da cidade, para dificultar a operação dos helicópteros da Polícia Civil do Rio de Janeiro que apoiavam o cumprimento de mandados de prisão. Tiros de fuzil também foram disparados contra as aeronaves e, nas redes sociais, moradores relatavam grande número de disparos na região.

O narcotráfico no Rio de Janeiro alcançou tamanha dimensão que uma mera operação de cumprimento de mandados de prisão ganha proporções de guerrilha urbana. Segundo relatório da Polícia Civil, são cerca de 1.400 favelas dominadas pelo narcotráfico e mais de 56.000 criminosos em liberdade. Organizados em facções que remontam à década de 1980, os traficantes consolidaram sua atividade principal, o tráfico de maconha e cocaína, a partir de um tripé formado pela leniência da sociedade com o consumo de drogas, por um código de processo penal frágil e por um índice não desprezível de corrupção nas instâncias repressivas.

As táticas atuais da criminalidade no Rio de Janeiro não se limitam mais ao tradicional esconde-e-foge da polícia que ocorre na maioria das cidades civilizadas. Não é de hoje que traficantes já contam com armamento suficiente para confrontar equipes policiais regulares e até mesmo a superioridade aérea. Em outubro de 2009, traficantes do Morro de São João, na zona norte do Rio, derrubaram a tiros de fuzil um helicóptero da Polícia Militar que dava apoio a policiais. Três policiais morreram na queda.

Já vai longe o debut do fuzil no noticiário carioca. Em 1988 o horário nobre dos telejornais exibia uma inédita salva de tiros disparada da laje de uma casa na favela da Rocinha, zona sul do Rio, disparada pelo então denominado Triunvirato do Pó, os traficantes Naldo, Buzunga e Cassiano, por conta da morte de um comparsa.

Uma grande quantidade de fuzis são apreendidos de traficantes no Rio de Janeiro. (Foto: redes sociais).

De lá para cá, o fuzil – de todas as marcas e procedências possíveis, virou armamento usual nos confrontos. Nas redes sociais, traficantes trocam ameaças relativas ás frequentes tentativas de tomada de território. Segundo o Instituto de Segurança Pública – ISP, do Rio de Janeiro, apenas nos cinco primeiros meses de 2023, foram apreendidas 3.138 armas de fogo, sendo 321 fuzis. Isso significa que, em 2023, por dia, foram apreendidos cerca de 2 fuzis. No comparativo com o acumulado de 2022, o aumento foi de 57% representando um salto como a maior quantidade em 16 anos.

Outros tipos de armamento já foram apreendidos anteriormente. Tubos de AT-4, a arma antitanque de origem sueca já foram apreendidos em poder dos criminosos, mas na condição inerte, já disparados. Entretanto, um lança-granadas, ou RPG, sem o mecanismo de disparo, já foi apreendido na favela de Vigário Geral.

Um RPG – Rocket-propelled grenade, ou Lança-Granadas apreendido no Rio de Janeiro em poder de traficantes. (Foto: Vinícius Cavalcante)

Para Vinícius Cavalcante, consultor em segurança e Diretor da ABSEG, Associação Brasileira de Profissionais de Segurança (http://www.abseg.org.br), apenas a falta de familiaridade com o armamento e o conhecimento da forma de operação é que impediu o uso direto desse tipo de arma contra a polícia. “O AT-4, só usaram uma vez, no Paraná, em um assalto a carro-forte”.