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Segurança, Defesa e Geopolítica

Para onde vai o Irã?

Por redação DefconBR

Em meio a uma revolta de costumes e sob constante pressão externa, o Irã vem se reposicionando geopoliticamente a partir da guerra da Ucrânia.

No campo interno, o país enfrenta manifestações em prol da liberdade das mulheres. A tenacidade das jovens iranianas não é nova e já foi provada quando, em 1979 elas passaram usar o hijab, o véu islâmico, em protesto contra o regime ocidentalizado do Xá Reza Pahlevi. Dessa vez, morte de uma jovem iraniana sob a custódia da Basij, a polícia de costumes islâmica, por não estar usando corretamente o véu, acendeu o pavio de uma onda de protestos que parece não ter data para acabar. Mahsa Amini, de 20 anos, estava à passeio em Teerã com seu irmão, quando foi abordada pela rigorosa polícia de costumes. Ela foi presa e levada para uma delegacia local e, em seguida, para um hospital, onde veio a morrer por conta de traumatismos cranianos. Os últimos informes dão conta de que a Basij teria sido extinta pelos clérigos que dirigem o país.

No front da segurança, o Irã continua combatendo a batalha subterrânea com a inteligência ocidental, capitaneada por Israel, que mantém o programa nuclear iraniano sob pressão. Diversas fontes, entretanto, dão conta que mesmo com as diversas sanções que o país vem sofrendo há mais de 18 anos ou com a operação de guerra cibernética que praticamente destruiu a infraestrutura de tecnologia de informação de diversas instalações estrategicamente espalhadas pelo país, o programa segue em frente com suas finalidades militares, com notório progresso depois que os Estados Unidos abandonaram as negociações em 2018. Segundo declaração do diretor-geral da Agência Internacional de Energia Atômica, AIEA, Rafael Mariano Grossi, em recente entrevista na sede da ONU, o programa nuclear iraniano está “avançando muito rápido” e o país tem uma estrutura “muito ambiciosa que deve ser verificada de maneira apropriada”.

Para fugir ao sistema de sanções internacionais, o Irã já vinha trabalhando de forma bilateral com a Venezuela, por exemplo. Depois de operar envios de gasolina para auxiliar o país em troca de petróleo pesado e armá-la com drones militares de ataque ANSU 100 e ANSU 200, o Irã assinou, em julho de 2022, um acordo de cooperação bilateral com duração de 20 anos nas áreas de defesa, ciência, tecnologia, agricultura, petroquímica, turismo e cultura.

O conflito na Ucrânia, da mesma forma, está sendo bem utilizado como oportunidade para o país se reposicionar no contexto eurasiano.

Em recente artigo, a pesquisadora de Oriente Médio e África da Escola de Guerra Naval, Dominique Marques, aponta para o crescimento do Irã como corredor de abastecimento indispensável aos Estados Europeus e seu consequente reposicionamento no cenário global: “Ao estar inserida em um panorama mais amplo de fortalecimento da Ásia frente ao Ocidente, a movimentação iraniana retroalimenta seu próprio avanço. À medida que o país cria bases para começar a se reinserir globalmente com maior autonomia, a Ásia vê reforçada a relevância de seu papel para a estabilidade internacional, da qual o Irã faz parte“.