A Vivandeira da OTAN e a Geopolítica da Leviandade nas Redes.
Por Redação DefconBR, em 28 de agosto de 2023. Atualizado em 30/08/2023.
No último dia 25 de agosto, a Plenária dos BRICS aprovou a entrada da Arábia Saudita, Irã, Argentina, Egito, Emirados Árabes e Etiópia no grupo. O anúncio foi comemorado pelos entusiastas da proposta de fortalecimento do sul global, como sendo um deslocamento de poder na geopolítica mundial, e fortemente criticado por países ocidentais, por conta das acusações de violações de liberdades fundamentais nesses novos integrantes e mesmo de financiamento do terrorismo internacional, como é o caso do Irã.
Na esteira dos debates nas redes sociais, o austríaco Gunther Fehling, autointitulado Presidente do Comitê Europeu para a Ampliação da OTAN para o Kosovo, publicou em sua conta no X (antigo Twitter) um chamado ao desmantelamento do Brasil, acusando o país de fazer parte de um Eixo Genocida, e convidando os novos países formados a partir desse desmembramento do Brasil a se juntarem à OCDE, a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico.
A postagem repercutiu a partir dos mais de trinta mil seguidores da conta e chegou aos brasileiros. De controversos influenciadores digitais ao respeitado jornalista Albert Caballé, editor do site de história Militar, geopolítica, defesa e segurança Velho General, os brasileiros morderam a isca e premiaram a conta do austríaco com mais de 125 mil visualizações em apenas uma das postagens.
O fato é que a OTAN não reconhece esse Comitê ou o seu suposto Presidente, não havendo em seu site qualquer referência à entidade ou à pessoa. Mera tiete da OTAN, Fehling é presidente de uma entidade fictícia que não tem sequer site e não consta em enciclopédias públicas como a Wikipedia, atuando a partir de contas particulares no X e no Linkedin. Apesar disso, conseguiu – e fez questão de replicar em sua conta – ser notícia em mídias brasileiras como Revista Forum, Terra, Defesa Aérea & Naval, Diário do Centro do Mundo, Sociedade Militar e Portal NE9.
O jogo geopolítico nunca foi leve e a cena atual, transpassada por ameaças complexas, é por demais crítica para se dar azo a mais um destrambelhado que pensa ser Napoleão. O Marechal Humberto de Alencar Castello Branco cunhou a famosa expressão sobre as “vivandeiras alvoroçadas, que vêm aos bivaques bolir com os granadeiros e provocar extravagâncias do Poder Militar”, referindo-se a civis que estimulam forças militares ao conflito para a consecução de seus próprios objetivos políticos.
A imensa conectividade de nossos dias criou o fenômeno das vivandeiras digitais, figuras que em seus devaneios castrenses acabam por galgar algum degrau da fama líquida propiciada pelas redes. Em conjunto, formam uma onda desinformacional que pode desviar o debate necessário sobre as consequências das alianças geopolíticas de nosso tempo e de nossas marchas de insensatez, quando novamente ribombam os canhões na ofensiva ucraniana de agosto na velha Europa Oriental.