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Baena Soares: A Diplomacia brasileira perde um gigante.

Por Redação DefconBR, 07 de junho de 2023. Atualizado em 11/06/2023.

Faleceu hoje, aos 92 anos, no Rio de Janeiro, o Embaixador João Clemente Baena Soares.
Formado em Direito pela Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro, Baena Soares ingressou no Serviço Exterior Brasileiro em 1953 e serviu em postos nos Estados Unidos, no Paraguai, em Portugal, na Guatemala, na Itália e na Bélgica. No Itamaraty, chegou ao posto de Secretário-Geral, a mais alta posição na hierarquia da carreira diplomática brasileira.

Mas a atuação de Baena Soares foi bem maior.

Incansável em sua missão como diplomata, era também um negociador habilidoso. Em 1980, quando o governo colombiano fracassou nas tentativas de libertação de 15 diplomatas sequestrados pelo grupo terrorista M-19, do Comandante “Uno”, Baena tomou a frente das negociações e conseguiu a libertação do Embaixador Geraldo Eulálio do Nascimento e Silva e dos demais 14 diplomatas.

Da mesma forma, chamou para si a mediação da crise Peru-Equador em 1981, após o fracasso da mediação dos chanceleres da OEA. Naquele dia, o prestigioso Jornal do Brasil estampou em sua manchete: “Êxito na solução da luta Peru-Equador deixa Brasil mais forte no continente”.

Seu trabalho junto ao Embaixador Oscar Hector Camillon foi fundamental para quebrar a resistência do presidente argentino Rafael Videla no impasse para o avanço da construção de Itaipu. Também, no eclodir da invasão das Falklands em 1982, foi quem orientou a Marinha do Brasil através do Ministro Maximiano da Fonseca a como se posicionar diante de um conflito de tamanha proporção na área de interesse estratégico do Brasil.

Em 1983, após a renúncia do então Secretário-Geral da OEA, Alejandro Orilla, o Chanceler Saraiva Guerreiro propõe a candidatura de Baena Soares à presidência daquele organismo internacional que, então, agonizava para manter a expressão no concerto das nações americanas. Eleito em 1984, foi saudado com um artigo no Christian Science Monitor, escrito pelo ex-Presidente do equador e ex-Presidente da OEA, Galo Plaza, em que considerava a candidatura de Baena Soares como uma nova oportunidade de revitalizar a OEA.

Sobre sua passagem na OEA, o Ministro Aurélio Romanini de Abranches Viotti escreveu em 2018, pouco antes da chegada da missão de observação eleitoral da OEA ao Brasil: “Ressalte-se a marca deixada pela gestão do Embaixador João Clemente Baena Soares à frente da Secretaria Geral, determinante para o resgate da eficácia da organização e do revigoramento de sua capacidade de ação política, inclusive sobre os primórdios e evolução do próprio conceito de democracia, de como a promoção constou dos objetivos iniciais do panamericanismo e veio a transformar-se em um dos quatro pilares contemporâneos da OEA, assim como sobre a continuidade da discussão e do debate sobre o tema. Como bem aponta, ainda se discute, no sistema interamericano, o que é democracia. À falta de definição elencam-se atributos”.

O legado do Embaixador João Clemente Baena Soares permanece até os dias de hoje. Em nota, o atual Secretário-Geral da OEA, Luis Almagro Lemes, declarou: “O legado de Baena Soares na OEA é inestimável. Há um antes e um depois de Baena Soares na OEA. A Organização tal como a conhecemos hoje deve muito ao seu trabalho de multilateralista convicto, ao seu conhecimento de jurista de renome e à sua competência de diplomata veterano. No mundo, e em particular nas Américas, hoje perdemos um grande valor”.

O Brasil perde um gigante na história da Diplomacia brasileira.