Conflito no Sudão: brasileiros são evacuados pela ONU, China e aeronaves estrangeiras.
Por Redação DefconBR, 25 de abril de 2023. Atualizado em 30/04/2023.
Os conflitos entre o Exército e forças paramilitares na capital do Sudão, Cartum, atingiram um nível que levou países estrangeiros a evacuar seus nacionais.
No país foram localizados cerca de 20 brasileiros dentre diplomatas, adidos, jogadores de futebol e familiares e, em nota a imprensa na sexta-feira, 21 de abril, o Ministério das Relações Exteriores informou que estava se unindo aos esforços coordenados de evacuação conjunta com outros países.
Com uma quantidade bem maior de cidadãos no país, outros países ocidentais e potências regionais foram os primeiras a tomar a iniciativa de resgatar seus nacionais. A Arábia Saudita foi o primeiro país a efetuar o resgate no sábado, seguido por Estados Unidos, França, Reino Unido, Alemanha e um grupo de países da União Europeia no domingo (23). A Espanha retirou em um avião cargueiro 30 cidadãos espanhóis e 70 outros oriundos de Portugal, Itália, Polônia, Irlanda, México, Colômbia, Venezuela e Argentina.
Segundo nota do Itamaraty ao DefconBR, a coordenação com governos estrangeiros, organismos internacionais e organizações da sociedade civil têm permitido a evacuação em segurança de cidadãos brasileiros do território sudanês. Ontem, 24 de abril, um grupo de dez brasileiros chegou ao Egito pela rota terrestre, onde contam com apoio da Embaixada do Brasil no Cairo para alojamento e posterior repatriação ao Brasil. Outro brasileiro foi evacuado em voo organizado pelos governos da Suécia e dos Países Baixos. E, em 23/04, quatro brasileiros, dentre os quais três menores, já haviam sido retirados da capital sudanesa em comboio organizado pela ONU. O Itamaraty, entretanto, não forneceu informações específicas sobre o Embaixador brasileiro naquele país, Ministro Rubem Guimarães Coan Fabro Amaral, sobre o pessoal do serviço consular ou da segurança da Embaixada, tradicionalmente realizada pelo Corpo de Fuzileiros Navais da Marinha do Brasil. Contatada, a Marinha do Brasil também não forneceu informações sobre a presença de Fuzileiros Navais em Cartum.
A agência de notícias Xinhua noticiou a retirada de brasileiros, no sábado, 29 de abril, para a Arábia Saudita. O navio-tanque Weishanhu, da marinha chinesa, realizou uma segunda operação de resgate de 272 chineses e outros 221 nacionais de outros países, sendo seis brasileiros.(Foto: Xinhua/Wang Haizhou)
O Conflito
Os confrontos que estão ocorrendo na capital, Cartum, tem origem na derrubada do antigo Presidente Omar al-Bashir e na crise humanitária de Darfur.
No poder por 30 anos, de 1989 a 2019, al-bashir, um antigo Brigadeiro do Exército Sudanês, foi indiciado na Corte Penal Internacional pelos crimes contra a humanidade perpetrados em Darfur, região oeste do país e fronteiriça com Líbia e Chade, causando o deslocamento de mais de dois milhões de pessoas na região.
Dois personagens da crise de Darfur, ambos ligados a Bashir, o general Abdel Fatah al-Burhan, atual presidente do país e Mohamed “Hemedti” Hamdan Dagalo, líder das Forças de Apoio Rápido, são os protagonistas do cenário de guerra que se estabeleceu na capital.
Burhan trocou de lado quando Exército derrubou Bashir em 2019. Ele foi o presidente interino do país durante o período de transição, mas derrubou o Primeiro-Ministro Abdalla Hamdock e assumiu definitivamente o poder em 2021.
Hemedti ascendeu como líder da milícia Yanyawid, que atuava em favor de Bashir nos conflitos de Darfur contra os rebeldes. A Yanyawid cresceu, dando origem às Forças de Apoio Rápido que, por sua estrutura e tamanho passou a competir com o exército regular.
A disputa por poder entre os dois levou a acusações mútuas e os conflitos eclodiram na capital, Cartum. “Tanto instalações militares quanto as da FAR ficam no meio da cidade. Então, essa luta pelo poder está sendo travada aqui também, em bairros residenciais, onde as pessoas normalmente iriam fazer compras ou para a escola. Em todos os lugares, se ouvem as batalhas, e durante o dia inteiro”, conta a residente da capital sudanesa e diretora do escritório da Fundação Friedrich-Ebert em Cartum, Christine Roehrs ao site G1 (aqui).
Interesses Externos
Os conflitos de Darfur contaram com provável influência de interesses externos. Durante os massacres ocorridos na região, era voz comum que a comunidade internacional não intervia mais fortemente por ser uma área de interesses da China no setor de petróleo e gás. Nos conflitos de Catrum, emerge uma discussão nos think-thanks internacionais de que, agora, seria a Rússia, operando através do notório Grupo Wagner, que estaria em busca de um porto no Mar Vermelho.
Foto de capa: news.un.org/en/story/2023/04/1135932