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Segurança, Defesa e Geopolítica

Um ano de conflito na Ucrânia: a escalada para uma guerra mundial?

Envio de armas, mobilização russa, apoio chinês a e Conferência de Munique podem escalar o conflito para além das fronteiras da Ucrânia.

Foto: Jackson Martins – Pexels.

O concerto dos últimos acontecimentos no cenário global pode conduzir os principais atores geopolíticos da atualidade a um conflito mundial.

A visita de Volodymyr Zelensky aos Estados Unidos em dezembro e a inédita visita de Joe Biden à Ucrânia em meados de fevereiro reforçam o compromisso do ocidente em apoiar o país contra a agressão russa. Na esteira desses contatos, países europeus como Alemanha, Noruega, França e Espanha reforçaram o compromisso de envio de blindados Leopard 1 e 2, e veículos de transporte de tropas Marder.

A Rússia, por seu lado, tem deficiências em armamento de alto nível, mas instalou uma economia de Guerra para atender suas necessidades básicas. As fábricas de munição estão a toda e ela vai juntar uma quantidade sem precedentes de artilharia aos 200 mil homens que está enviando para as frentes na Ucrânia. Até mesmo o dono do grupo Wagner, que recentemente deu uma entrevista reclamando de falta de munição para seus contratados, já recebeu os meios de material pedidos.

Enquanto o ocidente reforça o apoio à Ucrânia, a China – que até então vinha mantendo uma posição de cuidadosa neutralidade, anunciou a visita de seu mais graduado diplomata, Wang Yi, a Moscou para estreitar relações entre os dois países. Segundo o Wall Street Journal, há informações suficientes para considerar que a China pretende iniciar o fornecimento de armas para a Rússia. O movimento de aproximação chinês ocorre ao mesmo tempo em que os Estados Unidos anunciam a ampliação da quantidade de tropas em Taiwan para fins de treinamento militar contra a ameaça chinesa.

O conflito na Ucrânia completa um ano marcado pelo fracasso da Conferência de Munique – versão 2023, em encaminhar uma solução para o conflito. A Vice-Presidente Kamala Harris acusou a Rússia de crimes contra a humanidade e a Ministra de Relações Exteriores da Alemanha, Annalena Baerbock, afirmou o óbvio: que a Rússia deve para de atacar para a guerra acabar. O Diplomata chinês Wang Yi anunciou, sem entrar em detalhes, uma proposta de paz a ser entregue nas próximas semanas. Mas a pressão sobre o trio Rússia-Irã-China tende mais a escalar que arrefecer as tensões mundiais.


A tensão crescente entre China e Estados Unidos vem alarmando o mundo. Conforme esse panorama se delineia, fica cada vez mais nítido que os dois países parecem a caminho da guerra e que as consequências disso serão mundialmente catastróficas. Essa sensação de inevitabilidade foi descrita como a Armadilha de Tucídides.
Em seu tempo, o historiador da Grécia Antiga que deu nome à expressão observou que “a ascensão de Atenas e o consequente temor instilado em Esparta tornaram a guerra inevitável”. Desde então, a armadilha descrita por Tucídides passou a designar o momento em que uma potência em ascensão ameaça tomar o lugar do poder dominante. Ao longo dos últimos cinco séculos tais condições ocorreram 16 vezes ― e em 12 delas uma guerra eclodiu.
Hoje, enquanto uma China irrefreável desafia a já consolidada supremacia dos Estados Unidos, essas nações correm o risco de protagonizar um conflito de repercussão devastadora. As promessas de seus presidentes de tornar seus países “grandes novamente” são a base da política externa de ambos e oferecem um vislumbre sombrio da construção do décimo sétimo cenário. Conflitos comerciais, ataques cibernéticos, a crise da Coreia ou um acidente marítimo podem facilmente transformar os constantes desentendimentos entre as duas potências em uma guerra declarada.
Em A caminho da guerra, o professor de Harvard Graham Allison alia história aos fatos atuais para explicar o mecanismo eterno da Armadilha de Tucídides. Ao analisar o impacto do crescimento da China sobre os Estados Unidos e sobre a ordem mundial, Graham esmiúça as difíceis medidas que poderiam ser adotadas a fim de impedir um desastre de magnitude planetária.